domingo, 17 de fevereiro de 2013

Vygotsky e a teoria histórico-cultural

Lev Vygotsky, nascido em 1896, curiosamente o mesmo ano de Jean Piaget, criou um novo jeito de ver a aprendizagem: A teoria histórico-cultural.

A obra de Vygotsky pode ser dividida em duas partes: A primeira até 1924, e a segunda a partir desse ano, quando aconteceu o II Congresso de Psiconeurologia de Leningrado, onde o autor apresentou o trabalho "Métodos da pesquisa reflexológica e psicológica", provocando uma importante ruptura na sua carreira profissional.

Em 1926, Vygotsky cria o Instituto de Defectologia Experimental que, desde então, vem realizando pesquisas sobre ensino e programas educativos para crianças com necessidades especiais.

Vygostky teve uma formação acadêmica diferenciada. Isso, no sentido de que todos os cursos por ele realizados foram consequências de interesses e trabalhos prévios, mostrando assim, como o significado atribuído ao curso efetuado é um fator determinante na formação acadêmica de qualquer ser humano.

Deixando claro os objetivos de sua obra, Vygotsky queria reformular a teoria psicológica partindo da perspectiva marxista, uma vez que suas crenças nos principios marxistas eram honestas e profundas. Segundo Luria "Vygotsky era o líder teórico marxista entre nós" e ainda "nas suas mãos, os métodos marxistas de análises cumpriam um papel fundamental na hora de marcar o nosso caminho" (Wertsch, 1988, p. 28). O outro objetivo de sua obra era desenvolver formar concretas de tentar solucionar alguns problemas práticos enfrentados pela URSS.

Para Vygotsky, para entender o indivíduo, primeiro devemos entender as relações sociais nas e pelas quais ele se desenvolve. Vygotsky ainda criticava o estudo objetivo do comportamento externo, considerando-o um materialismo mecanicista.

Os três princípios que determinaram a estrutura teórica do trabalho realizado por Vygotsky são:
a) a crença no método genético ou evolutivo;
b) a tese de que os processos psicológicos superiores têm a sua origem nos processos sociais e;
c) a tese de que os processos mentais podem ser entendidos somente através da compreensão dos instrumentos e dos signos que atuam como mediadores.

Com relação ao primeiro princípio - a importância de estudar o processo - Vygotsky afirma que não devemos nos preocupar em estudar o produto do desenvolvimento, mas sim, seu processo. 'O estudo histórico (no sentido mais amplo da palavra história) do comportamento não é um aspecto auxiliar do estudo teórico, e sim, forma a sua autêntica base (Vygotsky, 1979).

Já o segundo refere-se ao lugar onde os fenômenos psicológicos se desenvolvem, isto é, à origem social dos processos mentais humanos.

Ele ainda, formulou a "lei genética do desenvolvimento cultural" na qual afirma que "Qualquer função presente no desenvolvimento cultural da criança aparece duas vezes. Em primeiro lugar, aparece no plano social, para posteriormente aparecer no plano psicológico. Inicialmente aparece entre as pessoas como uma categoria interpsicológica para, posteriormente, aparecer na criança como uma categoria intrapessoal" (Vygotsky, 1981. apud Wertsch, 1988, p. 77). Para explicitar melhor esse conceito, Vygotsky criou dois pressupostos para sua teoria: a internalização e a Zona de desenvolvimento proximal.

O grande objetivo de Vygotsky foi o de constatar como as funções psicológicas, tais como a memória, a atenção, a percepção e o pensamento aparecem primeiro na forma primária para, posteriormente, aparecerem em formas superiores. Ele também, estabeleceu diferenças para as formas de desenvolvimento natural e a linha de desenvolvimento social. Esse autor entende que não é a natureza, mas sim a sociedade
 que deve ser considerada como determinante ao comportamento humano. Segundo Vygotsky, quando o homem transforma o ambiente, através de seu próprio comportamento, essa mesma modificação influencia em seu comportamento futuro.

Deve-se destacar também o conceito de mediação. A mediação é o processo de intervenção de um elemento intermediário em uma relação. Esta deixa de ser direta e parra a ser mediada por um elemento intermediário. Para Vygotsky, os seres humanos se relacionam com o mundo por meio de uma relação mediada, e não direta.

Assim como Piaget, Vygotsky entendia que a internalização é um processo no qual certos aspectos da estrutura da atividade, que foram realizados num plano externo, passam a ser executados num plano interno. A diferença de Vygotsky é que ele acreditava que a atividade externa deveria ser considerada como processos sociais mediatizados semioticamente, também argumentava que as propriedades desses processos proporcionariam a chave para entender a aparição do funcionamento interno. Portanto, a internalização supõe a reconstrução individual de uma atividade externa e social e é ela que nos difere dos animais.

Conforme Vygotsky, é pela aprendizagem com os outros que o indivíduo constrói constantemente o conhecimento, promovendo o desenvolvimento mental e passando desse modo, de um ser biológico a um ser humano. Nessa perspectiva, podemos concluir que para Vygotsky, o aprendizado é o responsável último pelo desenvolvimento. Ele inicia por um desenvolvimento interpsicológico e segue por um plano intrapsicológico.

A ZDP

Vygotsky denominou nível de desenvolvimento potencial ao conjunto de atividades que a criança é capaz de realizar com a ajuda, colaboração, guia de outra(s) pessoa (s). O autor diferencia esse nível do nível de desenvolvimento real, que é aquele que corresponde aos ciclos evolutivos já alcançados e definem-se operacionalmente pelo conjunto de atividades que a criança é capaz de realizar sozinha, sem autorização ou a ajuda de outros.

Outro aspecto importante deste conceito refere-se à análise sa imitação e do jogo, na criança. Podemos dizer que a imitação permite a transformação do desenvolvimento potencial em atual; enquanto o jogo cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança. Essa zona normalmente é localizada acima de sua idade e de sua possibilidade de ação atual, incorporando assim, os instrumentos, os signos e as pautas de conduta de sua cultura.


Além disso, vale ressaltar a importância da fala no desenvolvimento da criança. A fala é considerada um dos elementos de origem sócio-cultural que atua sobre a formação dos processos mentais superiores da criança. Para Vygostky, inicialmente a linguagem começa na sua interação com os outros (função interpessoal), desenvolvendo a linguagem socializada. Essa linguagem é interiorizada, e isso faz com que a criança que, inicialmente  procurava outra pessoa para resolver problemas, comece a procurar soluções nela mesma, adquirindo a linguagem, desse modo, uma função intrapessoal.

Por fim, para o autor, tanto o desenvolvimento como a aprendizagem estão intimamente relacionados dentro de um contexto cultural o qual oferece forma e unidade. Esse contexto cultural é o que proporciona a matéria prima do funcionamento psicológico. O indivíduo cumpre o seu processo de desenvolvimento movido por mecanismos de aprendizagem acionados externamente. Assim, a cultura transforma a natureza para adequá-la aos fins do homem.




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